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Advogado, Formado em Direito pela Faculdade de Direito São Bernardo do Campo; Especializou-se em Direito Administrativo pela PUC/SP e está concluindo Mestrado em Direito do Estado, com ênfase em Direito Constitucional.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ex-Prefeito Mauricio Soares

O lado pouco falado do ex-prefeito Maurício Soares


O nome Maurício Soares é bastante conhecido na região do Grande ABC e, principalmente, em São Bernardo. Muitas pessoas conhecem a sua trajetória política, já que foi eleito prefeito por três vezes. Muito se falou também de sua atuação como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, defendendo a causa trabalhista. O que poucos sabem é que esse filho de agricultor, nascido no sertão de Minas Gerais, traz consigo uma história de muitos sacrifícios e muita luta. É essa parte, da infância sofrida até seu ingresso na política, passando pela experiência religiosa como seminarista, que vamos contar a seguir e, assim, desvendar um pouco das vivências que transformaram este homem em um dos mais respeitados políticos da região.
  • Maurício Soares nasceu em 29 de julho de 1939, no alto de uma serra da cidade de Abaeté, sertão de Minas Gerais. Uma terra de serrado, que tem a agropecuária como principal atividade e uma agricultura de subsistência. “Nasci na fazenda do meu avô, que tinha 12 filhos. Todos trabalhavam na fazenda, produzindo tudo o que podiam para não ter que comprar”. Era nessa realidade que Maurício cresceu, de uma vida rural, onde buscavam compensar a escassez do dinheiro fazendo as próprias cobertas nos teares, plantando feijão, arroz, milho, frutas e algodão para fiar.
  • A vinda da família para São Paulo aconteceu em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, em busca de uma vida melhor. Acolhidos por uma das irmãs de seu pai, que já morava na Vila Ema, zona leste de São Paulo, logo perceberam que a vida aqui também era difícil. Seu pai, que sempre havia sido trabalhador rural, foi procurar emprego na indústria e o primeiro empecilho foi a falta de documentos. Não tinha certificado de reservista, indispensável para tirar a carteira de trabalho.
  • Quando chegou na idade escolar, Maurício foi estudar em um colégio de freiras – Externato Nossa Senhora do Carmo – que ficava a alguns quilômetros de sua casa e não era gratuito. Andava muito para freqüentar as aulas, muitas vezes na chuva e no barro, passando frio. Para ajudar em casa, sua mãe pedia para ir às ruas vender coisas e engraxar sapatos. No terceiro ano primário, seu pai já não podia mais pagar o colégio e, para não ter que parar os estudos, Maurício arrumou um jeito de conseguir dinheiro: levava o almoço para seu pai e mais dois colegas do trabalho e ganhava algum dinheiro com esta tarefa. O trajeto era feito a pé da Vila Alpina até São Caetano. Também tinha que acordar de madrugada e caminhar até a Vila Prosperidade para buscar o pão e o leite, além de ir para a escola, sempre a pé.
  • Aos 11 anos, sob a influência das freiras do colégio e com o apoio de sua mãe, Maurício decidiu ir para o seminário de padres e se preparar para a vida no clero. Em 1952, foi para o Rio de Janeiro e, um ano depois, foi transferido para Jundiaí, onde estudou o ginásio e o colegial, em um total de sete anos. Em dezembro de 1959, os padres avaliaram que Maurício não tinha vocação para o sacerdócio e, em 1960, graças ao excelente estudo que havia recebido, o ex-seminarista passou no vestibular da principal faculdade de Direito do país, a São Francisco.
  • Foi no último ano da faculdade, período que começou o golpe militar, que Maurício teve uma experiência que ficou marcada na memória: a invasão das tropas militares na faculdade. “Nós resistimos bastante, formamos barricadas, mas eles conseguiram entrar. Mesmo assim, conseguimos dar fuga para a maioria que eles estavam procurando”, conta. Para Maurício, apesar da lembrança ruim por terem sido tidos injustamente como comunistas, havia algo de romântico no acontecimento, pois se opor à ditadura sempre foi uma das características daquela escola, que tinha uma compreensão muito grande da parte social e do apoio às lutas operárias. “A Faculdade São Francisco sempre foi uma caixa de ressonância do que se passava no Brasil. Foi uma bênção eu ter freqüentado aquela escola”, diz.
  • Por sempre ter pertencido à Igreja Católica, em 1963, ainda estudante universitário, Maurício começou a atuar nas comunidades católicas como palestrante e, depois, na cúria da Frente Nacional do Trabalho, dando assistência a alguns trabalhadores e já começando a praticar advocacia como estagiário. “Trabalhei também no escritório do advogado da Ação Católica, Mário Carvalho de Jesus, que só cuidava de direito trabalhista, e foi onde adquiri esse espírito de solidariedade e de companheirismo. Trabalhei com os metalúrgicos de São Bernardo, assessorando uma chapa de oposição ao partido Comunista. Por isso que, mesmo antes de ser advogado eu já entendia bastante de legislação sindical, operária e trabalhista”.
  • Em 1965, Maurício passou em um concurso para trabalhar no SESC, onde lecionava Legislação Trabalhista e Previdenciária. Nessa época, o Sindicato dos Metalúrgicos, que havia sido vítima de intervenção federal, foi liberado para as eleições. Quem acabou ganhando foi o grupo que ele assessorava antes de se formar. “Foi então que fui convidado pra ser advogado do Sindicato, e isso acabou significando tudo o que sou hoje. Entrei e fui mais militante do que advogado”, lembra. “Acho que essa parte da história foi uma das mais lindas da minha vida, estar com os trabalhadores, construir um sindicalismo diferente e, apesar das dificuldades, termos procurado ensinar não só os dirigentes, mas a todos que tinham vontade de aprender”.
  • No Sindicato dos Trabalhadores, teve atuação significativa também na formação das Comissões de Fábrica. A relação patrão/empregado era muito difícil, até cruel. Maurício lembra que muitos trabalhadores das linhas de produção não podiam sequer ir ao banheiro. Muitos traziam consigo uma garrafa plástica para fazer xixi na própria seção. Como sempre brigou por justiça e pelo aperfeiçoamento das relações patrão/empregado, redigiu o primeiro estatuto das Comissões de Fábrica da história, que foi implantado na Volkswagem, depois pela Ford e outras importantes empresas. Era um modelo padrão para todas as fábricas. Foi um avanço muito grande nas relações trabalhistas.
  • Como resultado desse trabalho, foram fundados o PT e a CUT, em São Bernardo e, em 1982, Maurício Soares saiu candidato a prefeito pela primeira vez. Em 1978, na época do bipartidarismo – quando só existia a Arena e o MDB – Maurício tinha sido candidato a suplente de senador pelo MDB com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Com a chegada do pluripartidarismo, em 1980, Maurício se filiou ao PT, uma vez que tinha sido um dos seus fundadores, e a primeira eleição que o partido concorreu foi em 1982. Na época funcionava o sistema de voto vinculado, ou seja, quem votava em um determinado partido para governador tinha que votar para todos os outros cargos nos candidatos do mesmo partido. Apesar de ter sido o mais votado para prefeito, com 51 mil votos contra 36 mil do Aron Galante, Maurício não pode assumir o cargo, pois a soma das três sublegendas do PMDB havia superado a soma dos votos dos candidatos do PT.
  • Como o mandato havia sido prorrogado de quatro para seis anos, apenas em 1988 houve outra eleição. Maurício saiu novamente candidato com Djalma Bom de vice, ganhou as eleições e, quando assumiu, encontrou a cidade em estado lastimável, submersa em dívidas. Um ano depois, com muito trabalho e negociação, a casa já estava mais ou menos em ordem, com dívidas apenas a longo prazo. Apesar da inexperiência administrativa e com minoria na Câmara, muitas coisas foram realizadas. Por meio de mutirões, foram feitos 100 quilômetros de rede de água e esgoto, o que beneficiou dezenas de bairros com um custo bastante baixo para a Prefeitura. Foram construídas muitas escolas, creches, asfaltamento e reurbanização de favelas.
  • Em 1992, terminado o mandato, Maurício se desligou do Sindicato e desfiliou-se do PT por causa de divergências internas. Nesta época montou então seu escritório de advocacia com outros dois sócios. Em 1996 Maurício volta à cena, se candidatando a prefeito pelo PSDB, sendo eleito pela segunda vez.
  • De 1997 a 2000, Maurício Soares fez um governo notável, de grandes realizações e aprovação popular, tanto que foi reeleito e deu continuidade ao governo até março de 2003. Além das escolas, hospitais, urbanização de favelas, projetos sociais, Maurício foi capaz de sanear as finanças do município. Quando assumiu, em 1997, São Bernardo tinha uma dívida maior que seu orçamento. Em um ano colocou a casa em ordem.
  • A renúncia veio devido a problemas de saúde, pois considerou que não estava em condições de se dedicar na totalidade, como sempre havia feito. O afastamento temporário colaborou para a sua recuperação. Neste período fez diferentes tipos de tratamentos, até mesmo alternativos, como acupuntura. E, recuperou- se totalmente. Em agosto de 2004, Maurício Soares fundou o Dignitas – Instituto de Cidadania e Desenvolvimento Humano – uma Ong que promove cursos voltados para o desenvolvimento humano, envolvendo, principalmente, pessoas da comunidade mais carente.
  • Em 2004, seu sucessor, William Dib, foi reeleito e, em 2005, Maurício voltou a participar da vida pública como Coordenador de Ações Comunitárias, cargo que exerce até hoje. Nesta coordenadoria, Maurício faz o que mais gosta: manter o contato com o povo. “Esse contato sempre existiu, mesmo nos momentos que fiquei afastado. Sempre gostei de estar com a população, de fazer obras e projetos voltados para o bem-estar da comunidade. Para mim isso é uma alegria”. Em junho de 2008, por discordar da política do então prefeito William Dib, que não privilegiava as camadas mais sofridas da população, Maurício deixou o grupo de Dib, se aproximando novamente do PT, partido do coração, cuja ideologia política sempre se afinou com seu modo de fazer política. Em julho de 2008 assumiu publicamente o apoio a Luiz Marinho, eleito prefeito de São Bernardo em outubro de 2008. Hoje é assessor especial de Marinho, e continua fazendo o que gosta: contatos e reuniões com comunidades e lideranças de bairros.

Fonte: Elenice Vieira.

2 comentários:

  1. legal a admiração que vc tem pelo seu pai, Maurício. espero que vc consiga traçar um caminho de justiça na nossa política. abraço,

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  2. E hoje, 2016 cuida do seu apadrinhado, o atual prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando do PSDB... pelo que percebi, ele gosta mesmo de virar a casaca

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